Mensalão ajudou, mas sociólogo Aldo Fornazieri avisa: ele é um poder 'tão corrupto quanto os outros dois'
Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo
O Poder Judiciário foi o menos atingido pelos protestos ocorridos no País no mês passado. Em vários lugares ele chegou a ser festejado nas ruas, na figura do ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). Pesquisas de opinião realizadas após a grande onda de manifestações confirmam essa percepção. Um levantamento do Ibope destinado a medir anualmente o índice de confiança nas instituições mostra que, enquanto em julho do ano passado a porcentagem de pessoas com alguma ou muita confiança no Judiciário chegava a 59%, no mesmo mês desse ano ela desceu para 50%. Embora seja uma variação significativa, é muito menor do que a verificada com outros poderes. Em relação ao Legislativo, no mesmo período o índice variou de 35% para 25%.
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Wilton Junior/AE - 7/10/2012
Presidente do STF, Joaquim Barbosa, tietado no Rio de Janeiro
A que se pode atribuir essa resistência do Judiciário aos protestos? Na entrevista a seguir, o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, aponta algumas razões. A primeira delas seria "o superávit de imagem positiva" que o Supremo Tribunal Federal deu ao Judiciário com o julgamento do mensalão. Esse superávit, porém, na avaliação do sociólogo, é meramente circunstancial e já começou a desmoronar. "O Judiciário é tão corrupto e ineficiente quanto o Legislativo e o Executivo", diz ele.
A que atribui a ausência de ataques ao Judiciário nas manifestações de junho?
Aldo Fornazieri: No momento dos protestos, o Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal, estava com um superávit de imagem positiva. Ainda havia um recall positivo em torno do julgamento do mensalão, o que tornava esse poder, naquele momento, a instituição de maior credibilidade.
Por que frisou 'naquele momento'?
Aldo Fornazieri: Porque o Judiciário é tão corrupto quanto os outros dois poderes, o Legislativo e o Executivo. Recorrentemente surgem denúncias e escândalos nesta área. Envolvem muitas vezes a compra e a venda de sentenças. Se pegar o caso específico do Tribunal de Justiça de São Paulo verá que está envolvido com denúncias fortes, divulgadas na semana passada, sobre o pagamento de benesses indevidas, com o desvio de milhões de reais. Por outro lado, as tentativas de fiscalização do Conselho Nacional de Justiça enfrentaram forte resistência em São Paulo. Não há, portanto, a menor dúvida de que o Judiciário se equipara aos demais poderes em termos de corrupção.
Existiria algum outro motivo, além do mensalão, para o Judiciário ter sido poupado nos protestos?
Aldo Fornazieri: Eu citaria mais duas razões. A primeira é que os escândalos do Judiciário não têm tanto destaque na mídia quanto os do Legislativo e do Executivo. Eles aparecem menos. A segunda é que o cidadão, de maneira geral, tem uma relação mais direta com o Legislativo e o Executivo - até porque é ele, cidadão, quem elege os representantes nesses poderes. No Judiciário, com exceção dos ministros do Supremo, as figuras são menos conhecidas. Se você citar os nomes dos juízes do Tribunal de Justiça de São Paulo, pouquíssimas pessoas vão identificá-los. A relação entre o Judiciário e os cidadãos, portanto, é mais difusa, o que atenua a fiscalização sobre esse poder.
Há menos percepção na sociedade sobre as falhas do Judiciário?
Aldo Fornazieri: Sim. Além de tão corrupto quanto os outros poderes, o Judiciário é extremamente deficiente. Quanto demora o julgamento de um caso na Justiça? Pode demorar décadas. Já foram feitas tentativas, nos últimos quinze anos, de reforma dessa estrutura, mas os problemas continuam. O déficit de eficiência permanece.
O senhor inclui o Supremo nessa análise sobre deficiências?
Aldo Fornazieri: Como já disse, o Supremo atravessou os protestos com a imagem razoavelmente boa, em função do mensalão. Logo em seguida, porém, começaram a surgir denúncias sobre uso indevido de equipamentos públicos por parte do próprio Joaquim Barbosa e de outros ministros. Nesse caso também a mídia não deu muita ênfase.
No caso de Barbosa, considera justas as críticas feitas a ele por ter recebido R$ 580 mil em benefícios atrasados? E quanto à polêmica da compra do apartamento em Miami? Apesar de existirem controvérsias nos dois casos, aparentemente não há ilegalidades.
Aldo Fornazieri: Não há nada de ilegal também na maior parte das viagens de ministros em aviões da Força Aérea Brasileira. Só no primeiro semestre deste ano havia uma brecha de 1600 viagens em jatinhos para ministros e outras autoridades. O problema muitas vezes não é tanto o da legalidade - especialmente quando você considera que as leis no Brasil protegem muito os políticos e outros representantes públicos. O problema está mais relacionado à moralidade. Os poderes no Brasil são refratários à ideia de bons exemplos - e o Judiciário se enquadra nessa situação.
O que seria um bom exemplo?
Aldo Fornazieri: Veja o caso do papa Francisco, que está visitando o Brasil. Quando abre mão do luxo e das benesses do poder, quando opta por um estilo de vida frugal e escolhe um carro mais simples para circular, ele se torna um símbolo disso que estamos falando, que é o bom exemplo. Na teoria, entre os filósofos, os políticos clássicos, sempre se enfatiza a necessidade de bons exemplos da parte dos governantes. Só assim eles contribuem para a melhoria da moralidade da sociedade. Não é isso que se vê no Brasil. Aqui os governantes são especialistas em dar maus exemplos.
Está falando em desperdício de recursos públicos?
Aldo Fornazieri: Sempre. Quando a presidente Dilma Rousseff foi a Roma, para posse do papa, ela e sua comitiva se hospedaram no hotel mais caro da cidade, conforme os jornais divulgaram na época. Isso é um mau exemplo para a sociedade. Quando o Joaquim Barbosa, eventualmente, usa algum equipamento público para algo que não é relevante, também é um mau exemplo.
Voltamos à questão do que não é ilegal mas pode ser imoral.
Aldo Fornazieri: Veja o caso dos carros mantidos por assembleias legislativas e câmaras de vereadores que buscam e levam os parlamentares para suas casas após o trabalho. Embora seja legal, o benefício e ilegítimo e imoral, porque o cidadão comum tem que pegar ônibus para ir ao trabalho. O poder público no Brasil está eivado desses benefícios ilegítimos e imorais. Isso se torna mais grave quando consideramos que a sociedade está carente de bons serviços.
Associa essa carência à queda nos índices de aprovação dos governos, como mostrou pesquisa do Ibope?
Aldo Fornazieri: A pesquisa tratou dos governos federal e estaduais, mas se fosse estendida aos prefeitos o quadro não seria melhor. Há uma clara percepção da sociedade de que os governos não estão atendendo às necessidades fundamentais da população, como saúde, educação e segurança pública. Existe uma crise de governança eficaz no Brasil. Nesse rol também entra o mau uso do recurso público, que equivale a um tipo de corrupção. Quando o Judiciário paga benesses indevidas a seus representantes, quando usa carros de forma indevida e assim por diante, é uma forma de corrupção. Ela não se resume ao roubo de dinheiro público.
Fala-se muito no abismo que existiria entre governados e governantes. Isso se estende ao Judiciário?
Aldo Fornazieri: Ele está completamente distante da sociedade. Os juízes estão numa redoma, na qual ignoram o que acontece ao seu redor e usam de forma indevida os recursos públicos. Muitos são permissivos com os que têm dinheiro e poder e rigorosos com pobres e desemparados. / COLABOROU JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Fonte: Estadão
TSE
Enquanto a sociedade clama por moralidade o TSE, ensurdecido, NÃO ESCUTA
A VOZ DAS RUAS E RETROCEDE.
Seguidamente vem modificando as decisões do TRE de SÃO PAULO e da BAHIA,
que barraram substituições, às vésperas das eleições, de CANDIDATOS INELEGÍVEIS
POR SEUS FILHOS E ESPOSAS. Isso ocorreu em pelo menos 33 MUNICÍPIOS
BRASILEIROS.
No último julgamento da espécie, VIRADOURO, em São Paulo, depois do voto
de MARCO AURÉLIO permitindo a manobra, o ministro DIAS TOFFOLI pediu vista para
analisar a ocorrência de fraude.
A maior resistência tem sido do ministro MARCO AURÉLIO, que no
julgamento de PAULÍNIA redigiu uma ementa que pode permitir a manobra imoral em
todo o país.
Veja a ementa da lavra do decano Marco Aurélio no acórdão do caso
Paulínia:
“PROCESSO DE REGISTRO – BALIZAS – SUBSTITUIÇÃO – FRAUDE. Descabe, no
processo de registro, no qual aferidas as condições de elegibilidade e a ausência
de inelegibilidade, adentrar o exame de fraude na substituição, que, "de
qualquer forma", não se presume”.
Enquanto não se presumir fraude tudo bem, é intrínseco à segurança
jurídica, e se a fraude for comprovada? Aí, paciência, Seu Marco Aurélio, CABE
SIM, o ato é nulo e não produz efeito algum. Todo mundo sabe disso.
O ministro DIAS TOFFOLI, apesar ressalvas, acabou se rendendo à pressão
de MARCO AURÉLIO, ainda que a ministra LUCIANA LÓSSIO tenha mantido sua posição
de não permitir tal afronta à Lei da Ficha Limpa; o ministro HENRIQUE NEVES vem
proferindo decisões visivelmente contrárias à sua posição, para não ir de
encontro ao que decidiu o pleno do TSE sobre PAULÍNIA. A ministra CÁRMEN LÚCIA
ao votar já não fazia diferença no resultado. O ministro CASTRO MEIRA ainda não
teve a oportunidade de votar.
O TSE nunca havia decidido assim. Casos anteriores apenas não tiveram
fraudes comprovadas e, por isso, julgados improcedentes. O PORQUÊ DO RETROCESSO
É A PERGUNTA!
Sabemos que qualquer outro direito não pode ser exercido abusivamente,
POR QUE O ABUSO NÃO PODE SER DISCUTIDO NAS SUBSTITUIÇÕES DE CANDIDATURAS?
- Seu Marco Aurélio, havendo fraude o ato é nulo e não produz efeito
algum. Todo mundo sabe disso.
Segundo o autor da Lei da Ficha Limpa, juiz Márlon Reis, o TSE perdeu
oportunidade ao permitir a substituição de inelegíveis às vésperas das
eleições.
“O TSE perdeu a oportunidade de avançar ao abrir brecha a fichas-sujas,
diz autor da lei”. No Brasil foram registrados pelo menos 33 casos do tipo, em
que pais e maridos, sabedores das suas inelegibilidades, renunciaram faltando
poucas horas para as eleições e colocaram seus filhos e mulheres.
Ainda segundo o juiz Márlon Reis, um dos idealizadores da Lei da Ficha
Limpa, “a decisão do TSE deixou de levar em conta fatores importantes de
moralidade.” Mais uma vez, o Judiciário se pautou apenas pela questão da
legalidade pura e simples, esquecendo-se que dentre os princípios da
administração pública também há a moralidade.
Para
um observador menos atento, pode até parecer um caso isolado, mas um
levantamento do site Congresso em Foco revela que pelo menos outros cinco
municípios paulistas se encontram na mesma situação. E seus casos devem ser
julgados por esse mesmo TSE em breve. E não é só isso. Saindo de São Paulo,
temos no Brasil pelo menos mais outros 33 casos de políticos que renunciaram em
cima da hora em favor de filho, esposa ou algum familiar, o que já dá para
antever a dimensão do “estrago” que essa decisão do TSE em Paulínia pode
provocar. #AcordaTSE - #TSE - #STF