Circula nos altos escalões do governo de São Paulo cópia da degravação de uma conversa telefônica travada entre dois integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Um sugere ao outro que devem ser mortos "todos esses políticos". O outro pergunta: "Mas quais"? O autor da sugestão esclarece que se refere a políticos do PSDB e do PFL, poupando-se os do PT.
O governador Cláudio Lembo resiste à pressão para que divulgue a conversa grampeada com autorização da Justiça. O secretário de Segurança Pública é a favor da divulgação.
É com base em tal diálogo que cabeças coroadas do PFL e do PSDB tentam vender a história de que o PT estaria por trás dos ataques promovidos pelo crime organizado em São Paulo.
O senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, saiu na frente no início desta semana:
- O PT pode estar manuseando, manipulando essas ações [atentados].
O ex-governador Geraldo Alckmin e o ex-prefeito José Serra seguiram as pegadas de Bornhausen. Disse Alckmin:
- Tem muita coisa estranha por trás de tudo isso. Mas não vou fazer nenhuma observação de natureza política. Estranho a forma como a coisa ocorre, a época em que ocorre, a maneira como os atos são desencadeados.
Serra foi mais explícito:
- Basta você olhar os manifestos do crime organizado, o que eles dizem sobre a política, coisas que se diz que eles [criminosos] dizem, inclusive nas gravações.
Bateu o desespero na coligação PSDB-PFL. Muita gente ali teme que a onda de violência em São Paulo detenha o crescimento de Alckmin nas pesquisas eleitorais e subtraia a Serra as chances de se eleger governador ainda no primeiro turno.
Líderes políticos com o peso de Bornhausen, Alckmin e Serra não podem bancar acusações sem que elas antes tenham sido provadas. Dizer que o PT "pode estar manipulando essas ações" é igual a dizer que ele também pode não estar.
Falar em "coisa estranha" dada à época em que ocorre serve apenas para confundir e desviar o foco das discussões. É pura leviandade.
O PCC nasceu em 1993 na penitenciária de Taubaté, interior de São Paulo, depois que mais de 100 presos foram mortos um ano antes naquele que se tornaria conhecido como "o massacre do Carandiru".
Criado, de início, para defender os interesses dos presos, o PCC cresceu e passou a mandar nas 40 penitenciárias paulistas. Logo entrou em choque com o PSDB que assumiu o governo de São Paulo em 1995 com a eleição de Mário Covas.
Em 2001, o PCC liderou a maior rebelião da história penitenciária de São Paulo. Ela atingiu 29 presídios e terminou com um saldo de 16 mortos.
O troco veio um ano depois: 12 líderes do PCC foram mortos pela polícia na rodovia Castelo Branco. Deu-se ao episódio o nome de "Emboscada da Castelinho".
O governo paulista anunciou o fim do PCC em novembro daquele mesmo ano. Na época, o diretor da Delegacia Especializada no Crime Organizado, Godofredo Bittencourt, garantiu que a organização criminosa falira.
- O PCC não morde mais ninguém -, comemorou.
Era história para boi dormir. O PCC não só se manteve forte nos presídios como passou a comandar os crimes praticados fora deles. Aliou-se, por exemplo, ao Comando Vermelho do Rio de Janeiro.
Em 13 anos de existência, o PCC gastou onze em guerra contra governos do PSDB e agora do PFL.
É natural que tenha como principal inimigo quem o combate há tanto tempo. Em hora de enfrentamento, também é natural que pense em retaliar seu principal inimigo.
O PSDB e o PFL ultrapassam o limite da irresponsabilidade quando insinuam sem provas e de maneira criminosa que o PCC atua como braço armado do PT.
Quem pariu o PCC ou o viu nascer que o embale.
Do Blog do Noblat
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