24 março 2006

Segunda Carta aos militantes petistas


Carta aos militantes petistas (II)

Companheiros e Companheiras,


Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deitou falação contra o PT, acusando-nos de modo grosseiro e calunioso. O povo costuma dizer que macaco nunca olha para o próprio rabo. Fernando Henrique é o típico representante da classe dominante, e aqui no sentido mais amplo do termo porque defende interesses da burguesia nacional e internacional. Tornou-se o condottiere da burguesia. De teórico da dependência, tornou-se o condutor da unidade entre parcelas da classe dominante local e multinacional, autêntico intérprete dos tempos novos do capitalismo, arauto do neoliberalismo.

Em pouco tempo, oito anos apenas, realizou obra de vulto. Oitenta anos em oito. Aumentou a dívida pública 10 vezes. Aumentou a carga tributária em 10 pontos percentuais. Desmontou quase toda a estrutura produtiva do Estado brasileiro vendendo-a a preço de banana, em negociata que assombrou o mundo. Foi várias vezes ao FMI, quase nos levando à falência. Aproximou-se a passos largos do Estado mínimo, terceirizando grande parte dos serviços públicos. Revelou uma enorme capacidade para reverenciar os poderosos do mundo e para exacerbar nossa dependência dos grandes centros capitalistas mundiais.

A política submissa aos interesses neoliberais que colocou em prática com rigor espartano provocou desemprego e problemas sociais gigantescos. A inflação superava em 2002 a casa dos 12% anuais e os juros eram superiores a 25%. A política econômica recessiva gerou, naqueles oitos anos, em torno de 8 mil empregos formais por mês, diferentemente do governo Lula, que gera um montante superior a 100 mil empregos formais mensais. Qualquer comparação que se faça em relação aos dois governos, nossa política, que é efetivamente preocupada com o povo, leva a melhor. Por isso, insisto, no dito popular: macaco não olha para o próprio rabo. Fernando Henrique foi uma tragédia política, econômica e social para o país.

Está certa Maria da Conceição Tavares quando diz que qualquer retorno dos tucanos ao poder, o que o povo não vai permitir, significaria um corte radical nos direitos dos trabalhadores – eles seriam capazes de eliminar todos aqueles direitos conquistados durante o século XX, acentua ela corretamente. Que autoridade tem esse cidadão para pretender discutir o PT e o governo Lula, sob qualquer aspecto? Quiséssemos discutir a atitude do governo dele face à corrupção e veríamos a gravidade do quadro de então. Basta lembrar alguns poucos episódios, fartamente conhecidos da opinião pública brasileira, dos quais ele anda esquecido. A memória dele é extremamente seletiva, disse-o bem o ministro Márcio Thomaz Bastos.

O governo de Fernando Henrique começou com o escândalo Sivam – corrupção e tráfico de influência relacionados a um contrato de US$ 1,4 bilhão para a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia, escândalo que acabou derrubando um ministro e dois assessores presidenciais. Continuou com o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro), quando o presidente beneficiou com R$ 9,6 bilhões o Banco Econômico apenas para satisfazer seu aliado baiano, Antônio Carlos Magalhães. No contexto desse escândalo, surgiu outro – o da Pasta Rosa, que evidenciava um gigantesco caixa dois, beneficiando dezenas de políticos, entre os quais o senador Antônio Carlos Magalhães.

Nada disso, antes que se siga adiante, despertou quaisquer rompantes éticos do ex-presidente. Nada foi apurado, nenhuma providência foi tomada, tudo foi jogado para debaixo do tapete. Para que o presidente apure a memória, ou para que ela deixe de ser tão seletiva, caberia lembrar a escandalosa compra de votos no Congresso para garantir a reeleição dele. Dois deputados, ambos do PFL, foram comprados por 200 mil cada um. A CPI foi bombardeada por Fernando Henrique. Outro momentoso caso de corrupção foi o socorro aos bancos Marka e FonteCidam, ambos com vínculos sólidos com o tucanato. E nada de CPI.

A privataria talvez tenha sido o mais grave de todos os escândalos. A privatização irresponsável foi um crime de lesa-pátria. Durante a privatização do sistema Telebrás, grampos no BNDES flagraram conversas telefônicas entre Luís Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, dirigente do banco, que tudo faziam para beneficiar o Banco Opportunity. A cobertura da privatização por parte da mídia, ao menos naquilo que ela teve de substancial, inexistiu. Salvo para a revista CartaCapital, que fez um trabalho memorável, revelador do assalto privatista que o tucanato promoveu ao Estado brasileiro. Apesar de tudo, FHC impediu a CPI. Não compensa seguir à frente com a lista. E os escândalos da era FHC eram de bilhões. Além de tudo, toda a política era de encobrir quaisquer apurações, diferentemente do governo Lula, que apura e combate a corrupção.

O povo tem razão: macaco não olha para o próprio rabo. De alguma forma, compreende-se a irritação de FHC. Com todos os seus títulos acadêmicos, não chegou nem perto da autoridade política que Lula adquiriu no País e no exterior. Lula é hoje um líder mundial, particularmente dos países periféricos e mais ainda da América Latina. E as classes dominantes nacionais mais perversas, ao lado das empresas multinacionais que ele representa com impressionante dedicação, não querem admitir que um operário continue a promover as mudanças que o Brasil tanto reclama. O povo brasileiro é sábio. Sabe o que andou por trás da recente campanha difamatória contra o PT e governo Lula. E não se deixará enganar. As pesquisas já indicam isso. E nós, do PT, vamos continuar nossa luta para aprofundar as mudanças no Brasil. Quem manda é o povo, Lula de novo.

Saudações petistas,

Deputado Emiliano José (PT-BA)

Salvador (BA), Março de 2006

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